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Auto-sabotagem financeira

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"Pare de mentir para si mesmo"

Antes de começarmos a conversar sobre organização financeira propriamente dita - planilhas, técnicas, dicas, livros e etc. - quero falar sobre um assunto cabeludo que sabota a vida financeira de muitas mulheres: Ilusões, mitos, mantras negativos e fantasias. Trata-se de algumas idéias que absorvemos ao longo da vida, que são sabotadoras do processo de construção de nossa maturidade, independência e, consequentemente, da organização e sucesso financeiro. 

Conheço muitas mulheres, das mais variadas idades e condições sócio-econômicas e culturais, que reclamam da falta de dinheiro e da falta de controle do dinheiro que ganham. Queixam-se de já terem feito de tudo, mas de sempre falharem no quesito controle das finanças pessoais. Curiosamente, muitas destas mesmas mulheres mantêm padrões de comportamento nocivos em relação ao dinheiro. É sobre isso que quero escrever hoje. Porque não adianta a gente ensinar como fazer uma planilha, se a atitude primordial em relação ao dinheiro não estiver em equilíbrio. Se a mulher não tem responsabilidade em relação as consequências de suas decisões e atos, não adianta perder tempo com livros sobre organização financeira. Parar de acreditar em certas ilusões é o primeiro passo para o sucesso quando o assunto é dinheiro.

Precisamos observar estas ilusões e mitos, a fim de fazer uma auto-análise para saber se estamos ou não caindo nessas estorinhas auto-sabotadoras. Podemos dizer então que, a primeira lição para organização e independência financeira, vem dos antigos gregos: "Conhece-te a ti mesma!"




"Se eu não vejo, não está acontecendo". Você não olha a fatura do cartão quando ela chega na sua caixa de correio, porque assim você pode continuar comprando no shopping como se nada estivesse acontecendo, como se a fatura não existisse e como se os juros altíssimos da operadora do cartão não estivessem alimentando uma dívida crescente.

Você considera o limite do cheque especial como parte do seu dinheiro, pois assim continua consumindo aquilo que você, na verdade, não pode consumir, e assim não precisa impor limites a si mesma.

Se você finge que não está vendo a sua vida financeira ruir, saiba que o que os olhos não vêm, o coração não sente mas o bolso, mais cedo ou mais tarde, terá que pagar pela inconsequência dos seus atos.  A propaganda de cartão de crédito diz para você que "A vida é agora", mas esqueceram de te dizer que a conta vem no mês que vem, com certeza!

A melhor dica é: Pare agora o que você está fazendo e enfrente sua situação. Olhe para sua vida financeira, olhos nos olhos. Verifique o saldo de sua conta, identifique o tamanho da sua dívida, em que pé está a sua fatura para o próximo mês, quais são as compras parceladas. Tome um susto daqueles, caia da cadeira se for preciso. Mas depois levante-se, e tome a decisão de pôr sua vida em ordem, saldar suas dívidas, equilibrar seu orçamento e ser uma mulher responsável pelos seus próprios atos.




Você tinha dinheiro para comprar um carro popular, 1.0, sem direção nem ar, à vista. Mas acabou comprando um importando completo porque seus pais a ajudaram a completar o valor necessário. Quando chegou o IPVA e o seguro do carro, você novamente recorreu aos seus pais, pediu uma "ajudinha" para conseguir pagar as contas do seu carro novo.
Outro exemplo: Você comprou o seu primeiro apartamento mas seus pais pagaram o gesso, o piso e a movelaria planejada? Isso para não falar da documentação do imóvel. E quando chegar o IPTU, eles vão te ajudar de novo.

Você está sempre dando passos maiores do que as suas próprias pernas, contando com a ajuda financeira dos seus pais, disfarçadas de presentes? Você não se preocupa em poupar dinheiro ou investir parte do seus ganhos para o futuro, pois está contando com a herança que seus pais deixarão para você. Você está se auto-sabotando com a ilusão da filhinha do papai.

Pare e reflita por um instante: Seus pais não durarão para sempre. Além disso, a velhice traz surpresas - como doenças sérias, despesas médicas altíssimas e às vezes inimaginaveis - que podem consumir o patrimônio de uma vida inteira. Não adianta bater na madeira e não querer pensar nisso. Esse é mais um pensamento mágico que não protegerá você das intempéries da vida.

Além disso, você quer mesmo viver a sua vida sendo dependente de "presentinhos" das outras pessoas? (Primeiro seus pais, depois do namorado, depois do marido, depois dos seus filhos adultos...).
Se você sonha em ser uma pessoa independente, faça uma análise sincera do quanto você gasta, do quando sua família contribui para o seu orçamento, e faça todos os esforços possíveis para viver dentro de um padrão de vida que caiba no seu bolso, exclusivamente. Isso pode significar reduzir, encolher, cortar, simplificar e até privar-se, ou aumentar sua renda, mas acima de tudo tornar-se uma pessoa mais responsável, madura e auto-suficiente. Em outras palavras, independente.




Você não guarda nenhum centavo para o seu futuro. Acha que será jovem e forte, saudável e disposta para sempre (ou pelo menos até os oitenta anos de idade) para trabalhar e sustentar a vida que tem hoje. Nunca se interessou pelos planos de Previdência Privada, nem sabe como anda a sua relação com a Previdência Social, seu tempo de contribuição e coisas deste tipo. 

Esse é um tipo de pensamento mágico também. Você simplesmente não quer pensar no futuro e nem se imagina velha. Acha que seus filhos vão te sustentar ou que a aposentadoria/pensão do marido será suficiente para lhe garantir a vida boa que tem hoje pelas próximas décadas.

A melhor dica é: Seja realista. Conscientize-se de que as pessoas envelhecem, ficam mais frágeis, algumas doentes. Isso inclui você também. Hoje estamos vivendo mais, até os 80, 90 anos. Isso significa precisar de dinheiro para sustentar esse prolongamento da vida. Na fase da aposentadoria, a renda é reduzida consideravelmente, e muitas pessoas são obrigadas a se desfazer do patrimônio que contruíram com tanto amor e trabalho, para se sustentarem. E saiba que filhos não são uma garantia de sustento (nem devem ser, afinal eles terão suas próprias famílias para sustentar). 

Faça uma reflexão de como você vive hoje e como deseja viver daqui há 30, 40 ou 50 anos. Pense quanto dinheiro por mês você precisará para viver. Se tiver avós vivos, converse com eles. Crie intimidade com a terceira idade e perca o medo da velhice. Enxergá-la, sem mitos, será muito proveitoso.

A partir disto, comece a se informar e se organizar. Se você trabalha de carteira assinada, entre em contato com a Previdencia Social, e verifique em que condições você se encontra de tempo de contribuição e valores. Pesquise planos de previdência privada em bancos, saiba o que é um PGBL, um VGBL, entenda o conceito de juros compostos, faça uma simulação de investimento e resgate. Analise a possibilidade de ter imóveis que gerem renda no futuro. Prepare-se para viver a melhor vida possível, pelo maior tempo possível. Mas faça por merecer.



Você não tem plano de saúde pois acha muito caro pagar aquela mensalidade, já que não usa com frequência. Prefere ter dinheiro guardado na poupança para casos emergenciais, uma consulta ou um exame.

Acorde enquanto é tempo. Ninguém paga um plano de saúde por causa de consultas e exames. Um dia você recebe a notícia que precisa de uma pequena intervenção cirurgica, e fica enlouquecida ao descobrir que uma cirurgia simples pode te custar todas as suas economias, seu carro ou exigir um empréstimo no banco. Uma estada no CTI pode te custar o apartamento que você nem terminou de pagar. E, infelizmente, contar com o serviço de saúde pública brasileira pode ser penoso demais para você e para sua família.

Ninguém - niniguém mesmo - está a salvo de um acidente ou de uma complicação de saúde. Infelizmente, alimentação saudável e academia não são suficientes para nos garantir uma vida 100% a salvo de imprevistos de saúde. Por isso, comece já a pesquisar planos de saúde e escolha um que atenda bons hospitais na sua cidade, seus médicos e que tenha cobertura nacional para acidentes e emergências. Lembre-se: Não ter um plano de saúde é o pior jeito de empobrecer que existe.




"Eu preciso", "Eu mereço", "Quero já", "Wish list", "Tenho que ter", "Must-have". Se você repete esses mantras criados pela indústria do consumo para justificar seus gastos desmesurados em objetos de desejo, dos quais você não precisa, mas quer a todo custo porque amigas, revistas, blogs de moda e toda a mídia martela na sua cabeça que você "tem que ter" para ser aceita e valorizada, reveja seus conceitos já.

Outra farsa que foi disseminada na mídia de moda é a de que compensa gastar muito dinheiro com  itens de grife por se tratar de um investimento. Você não compra uma bolsa, você investe em uma bolsa de grife. Vamos esclarecer uma coisa: Bolsa de grife não é investimento. Nenhuma peça de roupa ou acessório de Moda é investimento, pois ele não retornará para você valorizado em nenhum momento. Você vai comprá-lo, usá-lo, vai se cansar dele ou ele ficará velho e sairá da moda. Vai se tornar ultrapassado. Você vai doá-lo ou vendê-lo em um brechó por um décimo do valor. Cadê o investimento?

Raríssimas peças serão valorizadas com o passar do tempo e poderão lhe render lucro no futuro. Um Dior assinado? Uma Chanel de época? Uma peça exclusiva que foi usada pela Lady Gaga? Considerando que você não é uma investidora capacitada, especializada em vestuário, com vasta experiência em leilões de luxo, pare de dar desculpas a si mesma ao repetir mentalmente que comprou um item além das suas posses (e provavelmente estorou o limite do cartão de crédito) porque é um investimento. 

"Vale mais a pena comprar uma bolsa cara do que cinco bolsas baratas". Isso somente é verdade para aquelas mulheres que compram um item de alta qualidade e se satisfazem com ele. Se você usa essa desculpa este mês para comprar uma Louis Vuitton, mas no mês que vem compra uma outra bolsa porque "não resistiu", então você está inventando desculpas para si mesma, para justificar seu consumismo desmesurado.

Outra pegadinha que muitas mulheres caem: Comprar jóias em joalherias famosas não é investimento. Se você quer comprar uma jóia porque gostou da peça e tem dinheiro para isso, ok. Mas saiba que  você vai pagar o ouro, o trabalho e o nome da joalheria. E na hora de vender, vai receber somente pela quantidade de ouro (ou material precioso) que existe na peça. A grife, pela qual você pagou, não volta para o seu bolso.

Dito isto, não seja uma vítima boba do marketing e da moda. Não se comporte como uma menina mimada fazendo cena no shopping porque quer um brinquedo novo, não importando as consequências financeiras desta compra. Seja uma mulher responsável, com pé no chão e a mão no seu dinheiro. Não permita que ninguém lhe diga o que você tem que comprar. Seja uma consumidora consciente, e não seja negligente com outras áreas importantes da sua vida (saúde, educação e futuro, por exemplo) por causa de uma bolsa ou um sapato.

E o mais importante: Não acredite na maior mentira do mundo de que a marca ou o valor das pecas que você veste definem quem você é. Você é muito mais do que veste, do que come ou qualquer outra mentira que o marketing inventa para fazer você gastar seu dinheiro.




Você gasta todo o seu dinheiro investindo no seu visual e em estética, pois isso atrairá um bom partido - rico, jovem e bonito - que se apaixonará por você e lhe dará uma vida de comforto e tranquilidade.

O mito da princesa (ou da material girl) é muito mais disseminado do que se possa imaginar. Muitas mulheres mascaram esse mito com um discurso de amor próprio exagerado: Um closet de estrela pop, cuidados com pele e cabelo que custam verdadeiras fortunas, cirurgias plásticas precoces. Tudo isso em nome de um cuidado e atenção consigo própria. Mas, no fundo, tudo que elas querem é atrair um homem que pague suas contas. Talvez o pai tenha alimentado esse papel em sua infância, e agora esta mulher procura um outro homem que substitua o papel do pai provedor.

É importante nós mulheres termos em mente que, com a idade, os atributos físicos decaem, apesar de todas as plásticas e tratamentos estéticos que possamos fazer. Transformar algo tão efêmero no pilar de um relacionamento e da segurança financeira não é nada sábio.




"Eu não entendo nada de dinheiro". "Sou péssima com contas". "Eu não sei usar uma planilha e ainda por cima acho muito chato". "Dinheiro é assunto de homem", "Meu marido é que entende dessas coisas". Muitas mulheres acreditam que o dinheiro e o controle financeiro masculinizam a mulher. A crença de que áreas do conhecimento que requerem raciocínio lógico e números (Matemática, Economia, Engenharia, etc.) são mais adequadas ao cérebro masculino do que ao cérebro feminino é preconceituosa e sem fundamentos. É muito mais provável que você esteja se escondendo atrás destes mitos para não ter que assumir a responsabilidade de suas decisões e atitudes.

Tente fazer uma auto-análise e verifique se você sempre delegou aos homens da sua vida (pai, irmão, namorado marido, filho...) a tarefa de decidir por você, de resolver as coisas por você, e de administrar o seu dinheiro. Busque compreender do que você tem medo. Medo de assumir o controle da sua vida? De pensar por você mesma? De tomar decisões erradas? Só acerta quem erra, não é verdade?
Tudo bem você contar com a ajuda, com a orientação e experiência dos homens que a cercam, mas não se esconda atrás deles alegando inferioridade intelectual para lidar com o assunto.




"Eu não consigo economizar dinheiro porque estou investindo no futuro dos meus filhos". "A educação  dos meus filhos é mais importante do que a minha aposentadoria". "Faço tudo pelos meus filhos". "Não deixo  faltar nada para os meus filhos".
Há um tempo atrás li a este respeito em livros de finanças e passei a ter uma visão completamente diferente sobre o assunto. Muitas vezes os pais optam por abrir mão de seus investimentos e aposentadorias privadas para pagar a faculdade dos filhos, para presentear-lhes com um carro ao completarem 18 anos, equiparem consultórios e escritórios quando se formam, pagarem festas de casamento. E, ao chegarem na velhice, os pais encontram-se sem uma aposentadoria ou reserva financeira suficiente para sustento próprio, sobretudo em relação a despesas com saúde, passando assim a depender financeiramente dos filhos.

Esta situação para os filhos é muito complicada, pois culmina com o momento de suas vidas que estão casando, constituindo família e também estão com despesas elevadas. Para filhos únicos então, a carga torna-se ainda mais pesada.

Fazer com que os filhos procurem trabalhar para pagar os estudos, ou se comprometer com um crédito educativo (que pagarão quando estiverem formados) ou deixar que eles busquem recursos próprios para investir em sua carreira ou pagar sua festa de casamento não é sinônimo de falta de amor e atenção. Pelo contrário, pode ensinar a eles a ter responsabilidade pelas próprias escolhas, e uma oportunidade de ensinar-lhes educação financeira, desde jovens. Cuidar de si próprio para não sobrecarregar os filhos durante suas vidas adultas e de constituição de família, isso sim pode ser um ato de amor.

***

Esses foram alguns padrões de comportamento amplamente disseminados por muitas mulheres que conheço e com as, e que sabota a auto-estima e felicidade delas em muitos aspectos. O post ficou enorme, mas eu queria muito escrever sobre esse assunto.

Se você se identificou com um destes mitos, ou com mais de um, não se sinta mal ou envergonhada. Todas nós, de uma forma ou de outra, já praticamos estas formas de auto-sabotagem ao longo da nossa vida. O problema não é se enxergar, pelo contrário. É continuar cega e a mercê dessas falsas crenças. Se você se identificou com algumas destas características, pense sobre elas, faça uma auto-reflexão, converse com amigos, família ou seu terapeuta. O importante é você trabalhar sempre para crescer, amadurecer, tornado-se uma mulher adulta e independente. De verdade, sem ilusões.


Imagens de Tyler Shields, via site http://www.tylershields.com/.


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