Entrada da loja da Anthropologie, Rockfeller Center, Nova York. Foto Dulci Dantas |
Voltei! Voltei de viagem, voltei a escrever, voltei ao blog. Teve até leitora-amiga me escrevendo para saber se estava tudo bem, perguntando porque eu havia sumido. Achei que ninguém ia sentir muito a minha falta, mas quando a gente recebe um email carinhoso (e até preocupado) é que percebe que tudo que colocamos no mundo faz diferença, inclusive na vida das outras pessoas.
Eu sumi do blog (e de outras esferas) porque a vida se voltou para dentro, em busca de um pouco mais de paz e de centro. Estava focada na prática da ioga, da meditação, na minha vida pessoal e nas pequenas práticas que constituem o dia-a-dia. Daí precisei viajar a trabalho para Londres e Nova York, e confesso que não estava em um momento muito propício para encarar o turbilhão que essas cidades são.
Aos poucos, observo que as grandes cidades do mundo - São Paulo, Nova York, Londres, Paris são as que conheço bem - estão ficando impossíveis, pelo menos para mim. A quantidade de gente parece cada vez maior, o ritmo da cidade é intenso (e tenso) demais e parece não haver silêncio em parte alguma. Em toda parte - restaurantes, estações de metrô, do lado de fora das lojas, nos lobbies dos hotéis, eu observava pessoas falando nervosamente em celulares. Nas ruas, muitos esbarrões e nenhum pedido de desculpas. Muita correria, o tempo parece voar para as pessoas cada vez mais apressadas. E também notei que há "coisas demais". Muitas lojas, abusivamente grandes, repletas de "stuff" (coisas) até o teto, e um ritmo de consumo incrível (no sentido de que é impossível acreditar que as pessoas comprem tanto).
Em alguns momentos pensei que as cidades não devem ter mudado tanto, provavelmente era eu que havia mudado, e por isso senti o impacto da diferença de ritmos - o meu ritmo interno mais lento e o ritmo acelerado das cidades. O resultado foi um pouco de irritação no começo, dor de cabeça... mas depois a gente se adapta. E é aí que mora o perigo. A gente se adapta a tudo.
Quando entrei na Anthropologie do Rockfeller Center em Nova York, me deparei com essa vitrine com a frase "O universo não é feito de átomos, mas de pequenas estórias". E essa frase fez total sentido para os meus questionamentos durante a viagem. Quem consegue vivenciar a sutileza das pequenas estórias, dos breves momentos, em meio a tamanha velocidade e aglomeração? Quem consegue ter consciência do que sente realmente ao ser hiper-estimulado o tempo todo por tantas vitrines, tantos letreiros, tantos gadgets, tantos sons e barulhos ininterruptos? Até respirar fica difícil no meio de tanta correria. Que dizer perceber um olhar, um gesto, um momento.
Muitas pessoas dizem sentir falta de sentido na vida cotidiana, como se não houvesse mais nada mágico, encantador e surpreendente a nossa volta. Ouso afirmar que a magia ainda existe, mas que para encontrá-la precisamos de mais silêncio, olhar menos vitrines e telas e mais para os olhos a nossa volta.