Perfumaria

Tenho em mim a memória de que artigos de perfumaria eram muito caros no passado. Lembro, ainda pequena, de ir a farmácia com a minha mãe para comprar o básico. Lembro do shampoo, do neutrox, creme rinse, pasta de dente, gel bozzano (para o meu pai), sabonete palmolive. 

Os itens de banho e perfumaria ficavam em uma prateleira pequena no banheiro. Cabia tudo. Sobrava espaço. A pele era boa, nem mista nem seca, nem oleosa, simplesmente boa. O cabelo era bonito e sedoso, não existia frizz naquele tempo. Nem reparação para danos térmicos. E os dentes? Muito bons. A gente escovava com pasta de dente branquinha, e ia no dentista todo ano para revisão. Uma beleza. 

Nos banheiros de hoje, haja prateleira, armário e gabinete para todos os itens, que se multiplicaram, se reinventaram, se aprimoraram e seguem crescendo em número e tipos. O cabelo agora anda poroso, de mal consigo mesmo. Até os fios se bi-partiram em pontas duplas, uma não quer saber da outra. Esperneia em frizz. É uma espécie de stress capilar. Anda deprimido, sem vida. A pele se esburaca em poros obstruídos e os dentes - além da escova de cerdas especiais com alcance único para os cantos mais difíceis - precisam de branqueamento e correção milimétrica. A perfumaria de casa ficou pequena demais, é preciso complementá-la no salão de beleza, no consultório da dermatologista, na esteticista, na dentista e no ortodontista. 

Às vezes parece que fiquei rica, cercada de tantas embalagens lindas e coloridas, glamour em potinhos. Mas confesso que há dias que trocaria o shampoo sem sal e sem parabenos, o creme hidratante renovador,  o condicionador, o creme para pentear e o óleo de argan pelo auto-suficiente neutrox. Ainda existe para comprar?