Além da reforma, muitas outras coisas andam acontecendo nessa minha dulci vida. Entre elas, esse ano comemoro dez anos de casamento e também sopro as quarenta (famosas) velinhas. Não que eu me impressione com números redondos, como 10 e 40, mas o fato é que a estrada que caminhei até aqui começa a ter sentido, para além das necessidades e expectativas diárias. E, por isso, ando sentindo falta de mudança, de avanço, de algo novo.
Eu sempre brinquei com meus amigos que sou uma pessoa com prazo de validade de, aproximadamente, dois a três anos. Sempre que me envolvo em um projeto de trabalho ou estudo, me dedico ao máximo, aprendo, cresço, faço meu melhor. O problema é que, quando vou ultrapassando esse tempo dos dois a três anos, as coisas parecem estacionar, os processos vão ficando velhos conhecidos, repetitivos. A rotina se acomoda e parece que "está tudo dominado". É o momento em que começo a ficar incomodada, cansada, preguiçosa com as atividades. Porque elas já não me oferecem horizontes para mirar, passa a ser apenas o aqui e agora, sem mais.
O maior obstáculo da mudança, ao meu ver (e observando os amigos também), é a manutenção do padrão econômico. Quando falamos em trocar de emprego, começar uma nova carreira, fazer algo diferente, mudar de vida, sempre surge o problema do "contas a pagar", não é verdade? Fico me perguntando se vivemos em meio a uma ciranda financeira, a ponto de não conseguirmos enxergar nada além do quanto precisamos ganhar para viver, e o quanto nos escondemos atrás disso para fugirmos dos desafios da mudança.
Outro obstáculo que sempre me deparo com ele é a famigerada pergunta "Por onde começar? O que fazer?". Penso, penso, penso, levanto possibilidades e me vejo sempre paralisada diante das opções, e às vezes, da falta de opção. Quero algo novo, mas o que eu quero exatamente? Isso também acontece com vocês? Acho que é mais uma questão do tipo "Conhece-te a ti mesma". Mas reconheço que é paralisante, e ainda não descobri um jeito de romper com esse veneno nosso de cada dia.
Acho que agora, próximo a completar quatro décadas, vejo que dediquei muito tempo a construir estabilidade, segurança, como um terreno para pisar firme. Uma vez que atingi esse patamar de vida, outros chamados - da consciência, dos sonhos, do coração, da família, do senso de responsabilidade, dos valores - começam a falar mais alto. Aquelas vozes que antes eram baixinhas, parecem que começaram a tagarelar - todas ao mesmo tempo - dentro da cabeça, e acreditem, nos momentos mais inoportunos. Elas cobram atitude, apontam situações que até então eu não reparava ou não me incomodava, mas que agora me dá nos nervos. Elas ficam me lembrando coisas no meio da noite, criando estórias, me fazendo repensar pessoas, hábitos, ações... Tem hora que elas me deixam doida! E, claro, o sono vai embora.
E ainda, é preciso ficar atenta a um inimigo perigoso, um sujeitinho que já venho observando nos últimos tempos: O piloto automático que acionamos todos os dias pela manhã, ao levantarmos da cama. É muito mais fácil fazer o que sempre fazemos, seja tomar café e sair para trabalhar, ou ir para o Facebook, rodopiar horas e horas na Internet, matar quinze minutos aqui e acolá tomando um café ou comendo um chocolate, ligando a televisão, ficando pendurada no celular ou comprando algo que não é necessário. Todas estas atividades não nos levam a lugar nenhum, não constróem nada nem permitem que a consciência daquilo que pensamos, desejamos e falamos entre em harmonia com o que fazemos. Essa rotina automática e anestesiante impede a conexão entre o sentir, o pensar, o falar e o agir. E como é difícil assumir o comando! Às vezes, melhor é se abandonar e não pensar. A gente acaba cedendo para a preguiça.
Com o avançar da idade, com o desenvolvimento da maturidade e o aprofundamento das relações, parece que um reajuste da vida é necessário. Saem pessoas, entram outras. Trabalhos se encerram, outros se iniciam. Atitudes são abandonadas, por outras novas, mais condizentes com o novo momento. Mudam as roupas, o vocabulário, as vontades, as prioridades. Mudança, transformação e adaptação passam a ser movimentos necessários para o longo caminho que ainda há pela frente.