Espelho, espelho meu... Existe alguém mais descabelada do eu? |
Estou me tornando especialista em mudança de vida. Já foram tantas vidas diferentes dentro de uma só que corro o risco de me perder nas lembranças.
Quando engravidei da Melina eu fiquei super vaidosa, mais do que era normalmente. Acho que gerar uma menina me despertou para feminices. Comprei vestidos, usava saltos (sim, desci do salto para ir para a sala de parto), maquiagem e sem contar que o cabelo ficou maravilhoso com todos os hormônios em cena.
Depois que o bebê nasceu foi uma reviravolta. Como tive alguns problemas e dificuldades com a amamentação, fiquei totalmente em função disto por dois meses e senti como se tivesse despencado dez andares. Mal conseguia tomar um banho sossegada, o cabelo vivia preso em um rabo de cavalo, não conseguia passar nem uma base no rosto, mal conseguia escovar os dentes. Unhas abandonadas a própria sorte. Lembro até hoje a primeira vez que me maquiei minimamente - aquela maquiagem básica para tirar a cara de quem acabou de acordar - para sair pra passear com a Melina. Parecia que eu estava voltando à vida.
Eu adoro maquiagem e não saio de casa sem ela. Mas fui lembrada de que ela não me define. |
Até hoje - já se foram quase onze meses - ainda não consegui retomar totalmente minhas rotinas de beleza - insisto, as básicas. Ainda vivo a maior parte do tempo de rabo de cavalo. Os banhos ainda são corridos. E as roupas, esse capítulo eu prefiro deixar para um post exclusivo. Metade eu perdi, e a outra metade não tem nada a ver com estilo mãe-com-criança-a-tira-colo.
Desafio para mães com bebês pequenos: Auto-maquiagem básica em 5 minutos. |
Mas o que eu descobri com tudo isso é que a gente se cobra demais. A gente se impõe rotinas - de beleza, de vestir, de comer, de comprar, de parecer - e acabamos nos confundindo com essas rotinas. Quando não podemos sustentá-las por algum motivo, por falta de tempo, dinheiro ou motivo de doença ou outro qualquer, ficamos nos sentindo mal, como se não fôssemos mais nós mesmas. Somos muito duras e intransigentes com nós mesmas.
Bijuterias e acessórios de mãe. O melhor playground para crianças que existe na face da terra. |
De repente, percebi que eu continuava sendo eu mesma, meio que a contragosto confesso, ainda que de cabelo preso, sem a maquiagem, as roupas elegantes usadas para trabalhar, os saltos, as jóias e bijuterias (são poucas as que as crianças não arrancam ou quebram). De repente, aquela criatura no espelho, vestindo calça jeans, camiseta e havaianas. Em casa, cozinhando para a pequena, trocando fraldas, amamentando ou rolando no chão. Aquela pessoa tão diferente no visual era eu mesma. Mesmas idéias, mesmo potencial mas com uma nova história e novas experiências para contar.
Perfumes mil. No começo eu evitava minhas fragâncias mais fortes por causa do bebê. Cheguei até a esquecer de alguns perfumes! |
Percebo agora que muitas das pessoas que criticam mulheres que se tornaram recém-mães pelo seu "aparente desleixo" assim o fazem porque não entendem que não se trata de desleixo. Não entendem que aquela mulher está vivendo uma fase completamente nova e diferente. Leva tempo para se ajustar. Aliás, leva tempo para se redefinir porque nada mais será como era antigamente. Você pode voltar para suas roupas, mas será outra pessoa, e isso muda tudo.
Um cantinho para se olhar verdadeiramente... e se enxergar. |
Existem muitas formas de ser feminina e o fundamental é que sejamos nós mesmas. Com maquiagem ou sem, descabeladas ou alisadas, de salto ou de pé no chão, na seda ou de camiseta. Não importa. Descobrir a mulher de verdade que existe para além de todas estas capas é uma aventura - nem sempre fácil - mas essencial.